Por muito que se ouça falar do regime Hitler e de todas as maldades feitas nessa época, é sempre horrível ouvir uma história como esta...
É nestas alturas que damos valor à infância que tivemos e que damos graças por não vivermos num ambiente de guerra.
Um livro pequeno que se devora em poucas horas e que deve ser lido por toda a gente!
Eva Mozes Kor
As portas do vagão abriram-se pela primeira vez em muitos dias e a luz do dia brilhou sobre nós.
Agarrei bem a mão da minha irmã gémea quando nos empurraram para a plataforma.
- Auschwitz? É Auschwitz? Que sítio é este?
- Estamos na Alemanha - foi a resposta.
Na verdade, estávamos na Polónia, mas os Alemães tinham invadido a Polónia. Era na Polónia alemã que se situavam todos os campos de extermínio.
Os cães rosnavam e ladravam. As pessoas do vagão começaram a chorar, a berrar, a gritar todas ao mesmo tempo; todos procuravam os seus familiares à medida que eram afastados uns dos outros. Separavam homens de mulheres, filhos de pais.
Um guarda que ia a passar a correr parou bruscamente à nossa frente. Olhou para Miriam e para mim nas nossas roupas a condizer: «Gémeas! Gémeas!», exclamou. Sem dizer uma palavra, agarrou em nós e separou-nos da nossa mãe. Miriam e eu gritámos e chorámos, suplicámos, as nossas vozes perdidas entre o caos, o barulho e o desespero, tentando chegar à nossa mãe, que, por sua vez, tentava seguir-nos, de braços estendidos, com outro guarda a retê-la.
Miriam e eu tínhamos sido escolhidas. De repente, estávamos sozinhas. Tínhamos apenas dez anos. E nunca mais voltámos a ver nem o nosso pai nem a nossa mãe.
Eva Mozes e Miriam Mozes nasceram em 1934 na Roménia. Em 1944, a sua família foi levada para o campo de concentração de Auschwitz. Por serem irmãs gémeas, foram selecionadas para as experiências feitas com seres-humanos realizadas sob a direção do médico nazi Josef Mengele. Ao contrário da maioria das crianças que foram submetidas a essas experiências, elas sobreviveram.
Os rins de Miriam nunca se desenvolveram completamente e acabou por falecer em 1993 de uma rara forma de cancro. Eva tomou a decisão corajosa de perdoar publicamente os nazis pela sua infância traumática e despertou a atenção do mundo originando mais tarde o documentário Forgiving Dr. Mengele, assim como várias aparições mediáticas, entre elas no popular programa de informação da CBS News, 60 minutos.
Eva dedicou a sua vida a dar testemunhos sobre os horrores do Holocausto, transmitindo uma mensagem de esperança nos direitos humanos.