Acho que nunca tinha levado tanto tempo a ler um livro de Fransico Moita Flores, um dos autores portugueses que mais gosto. O facto de ter levado tanto tempo a ler o livro não foi por não ter gostado da obra, nada disso... a culpa é deste mês de Agosto, que nos "atrafulha" de trabalho e que nos rouba o tempo para tudo.
Se a isto juntarmos festas, festivais e concertos de Verão, o tempo torna-se mesmo muito pouco.
Mas finalmente acabei o livro... e recomendo... A princípio pode parecer um pouco confuso, mas a história é muito engraçada e os momentos de formação de um novo partido político são realmente hilariantes.
Um grande livro como só um grande escritor sabe escrever...
De repente, o País ficou de sobrolho carregado. Zangado. A bancarrota revolveu os intestinos da política e entregou ao Povo um sarilho cheio de fome. A democracia, com a barriga cheia de teias de aranha, desatou a vomitar vermes. De testa franzida. Fazedores de milagres. Gente que perdeu a virtude do riso.
Portugal transformou-se num projectorado alemão e Zé Francisco, velho anarquista, exilado em Paris, com os seus amigos de sempre, vindos de todos os lados da política, decidiram criar um novo partido político (PUN) dispostos a ganhar as próximas eleições.
Um grupo de vadios intlectuais, sem eira nem beira, olhando desesperados para os sonhos antigos desfeitos em cinzas. E avançam, munidos de armas terríveis. A mais letal de todas elas é a gargalhada.
Sem programa político, que é caro e ninguém lê, distribuem arroz PUN, provocam o riso e os vadios riem de si próprios.
A democracia dos homens sisudos e sérios, cheia de cangalheiros formatados no mesmo fato de ideias feitas, estremece. A Direita e a Esquerda, ou vice-versa, embasbacam perante este movimento que sacode o país e lhe mata a fome. No meio da desorientação a polícia erra os alvos e os comentadores estrebucham quando são confrontados com um bando de bem-dispostos.
É esta A Opereta dos Vadios. Não sei se será assim a política da bancarrota. Mas se for não virá nenhum mal ao mundo por causa de umas valentes gargalhadas. Afinal, mais vale um político que sabe rir do que uma legião de rapazes sisudos, de gravata escura, empenhados em levarem-nos até aos confins da amargura.
Notas sobre o autor:
Franciso Moita Flores tem o nome associado a uma vasta e prestigiada obra que se distribui pelo romance, televisão, cinema e teatro. Alguns dos seus trabalhos estão inscritos na galeria da melhor ficção nacional. Ballet Rose, Raia dos Medos, O Processo dos Távora, A Ferreirinha, A Fúria das Vinhas, Não Há Lugar Para Divorciadas, Polícias sem História, Filhos do Vento, Mataram o Sidónio, as adaptações de grandes autores como Aquilino Ribeiro, Eça de Queirós, Júlio Dinis, entre outros, tornaram-no uma figura incontornável da dramaturgia escrita em português. Traduzido em várias línguas, várias vezes premiado quer em Portugal quer no estrangeiro, acabou por ser recentemente distinguido pelo Presidente da República com a condecoração de Grande Oficial da Ordem do Infante.
Investigador dos fenómenos da violência e segurança, "está", como costuma dizer, Presidente da Câmara Municipal de Santarém.